quinta-feira, 5 de março de 2009

O mapa da Exclusão por Claudia Izique

O mapa da exclusãoProjeto indica piora da qualidade de vida em 76 dos 96 distritos da cidade de São Paulo nos últimos dez anosClaudia IziqueEdição Impressa 83 - Janeiro 2003
Pesquisa FAPESP - © Miguel Boyayan

Em 85 distritos, faltam vagas nas escolas de educação infantil, Noutros, como o Pari, há superávit de até 83,49%
A cidade de São Paulo ganhou 1 milhão de excluídos nos dez últimos anos. Atualmente, dos mais de 10 milhões de habitantes da capital, em torno de 8,9 milhões vivem abaixo de um padrão desejável de vida: além de baixa renda, têm dificuldade de acesso à educação, saneamento, habitação, entre outros serviços. Essa deterioração na qualidade de vida da população em 74 dos 96 distritos em que se divide a capital é resultado da ausência ou inadequação de políticas públicas e da carência na oferta de equipamentos sociais.

E o quadro é ainda mais grave: a falta de planejamento aprofundou as desigualdades intra-urbanas. Na Vila Jacuí, por exemplo, há um déficit de mais de 27 mil vagas nas creches, um problema desconhecido para a população do Jaguaré, Brás ou Bom Retiro; para cada novo emprego em Aricanduva são criados 1.114 postos de trabalho na Sé; para cada morador de rua no Morumbi, existem 1.061 na Mooca, e, no Jardim Ângela, a taxa média de homicídios é 28 vezes maior que a de Moema.

Essa topografia social perversa está estampada no Mapa da Exclusão/Inclusão Social da Cidade de São Paulo, destaque do projeto de pesquisa Dinâmica Social, Qualidade Ambiental e Espaços Intra-Urbanos em São Paulo: Uma Análise Socioespacial, desenvolvido no âmbito do Programa de Pesquisas em Políticas Públicas da FAPESP. Resultado de parceria entre Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) e Instituto Pólis, o mapa, já em sua terceira versão, foi elaborado a partir da comparação dos dados dos censos do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) de 1991, 1996 e 2000, de estatísticas municipais e dados da pesquisa Origem/Destino da Companhia do Metropolitano de São Paulo, que subdivide a cidade em 270 regiões.

A pesquisa utiliza uma metodologia de análise geoespacial e tratamento matemático-computacional das informações em ambiente de Sistema de Informação Georeferenciado (SIG), que permite identificar "o lugar" dos dados nas distintas áreas da cidade e na criação de um Índice deExclusão (IEX) que possibilita classificar os níveis de qualidade de vida nos diversosdistritos de São Paulo."As informações geradas pelo mapa são estratégicas para a definição de políticas públicas adequadas às necessidades de cada região", diz Aldaíza Sposati, coordenadora do projeto e secretária de Assistência Social do município de São Paulo.

Indicadores

O Índice de Exclusão/Inclusão Social (IEX), construído pela equipe de pesquisadores que integra o projeto, é uma espécie de Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), utilizado pela Organização das Nações Unidas (ONU) para classificar a qualidade de vida dos países, só que ampliado. Enquanto o IDH utiliza quatro indicadores para avaliar a situação socioeconômica das várias nações, o Índice de Exclusão usa 47 variáveis - que a equipe de pesquisadores chama de "utopias" - agregadas em quatro grandes áreas: autonomia, qualidade de vida, desenvolvimento humano e eqüidade.

Os pesquisadores responsáveis pelo projeto desenvolveram uma metodologia de análise semelhante em Santo André, no ABC paulista, e começam a mapear as desigualdades intra-urbanas nos municípios de Campinas, Guarulhos, Piracicaba e Goiânia. "Os dados principais são do IBGE, mas é fundamental compatibilizá-los com informações das prefeituras", explica Dirce Koga, pesquisadora da PUC-SP, que integra o grupo.

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